domingo, 5 de fevereiro de 2012

Poemas


A FORMÍGRAFA

Formigavam as formigas
de um buraquinho no chão
todas muito direitinhas
numa fila perfilada
que contornava o torrão.
Eis senão quando uma delas,
sem motivo, nem razão,
deu dois passos de guinada
e mudou de direção.

Foi à fila para um lado
e a formiga dissidente
para outro bem diferente.

E assim, sem companhia,
num andar desassombrado,
caminhou até achar
o abrigo de um telhado.

Devagar, mas persistente,
galgou, cansada, um degrau,
marinhou por um sobrado,
contornou uma cadeira,
subiu a perna da mesa
e pousou sobre um papel
onde havia quatro versos
que a prenderam como mel.

Era ali que queria estar
e acabar o seu dia
entre as curvas dançarinas
das letrinhas elegantes.

Queria ser caligrafia.

Pensou, talvez, ser acento.

Mas um grave, nem pensar.
e agudo muito menos...
Não suportava a tortura.
De tanto se inclinar
ficava numa tontura. 



Com um jeito de coluna
podia ser circunflexo.
Mas a torção era um excesso! 


Podia, se bem quisesse
pôr um ar mais donairoso,
ser um til bem saboroso...

E deitada, bem esticada
tornava-se travessão...

Mas não gostava de nada.
Não achava a vocação.


Foi então, desanimada,
que parou no fim da linha,
encolheu-se, redondinha,
a sentir-se uma falhada.

E assim adormeceu.

Vai daí chega o poeta
que fora dar um passeio
a espairecer a cabeça
do desespero de ter
um poema em formação
e não saber que escrever
para lhe dar conclusão.

Olha então para o papel
e solta um grito espantado!
O poema interrompido,
vai-se a ver, estava acabado.

Abriu um olho a formiga
e, espertinha, percebeu.

Satisfeita, regalada,
ainda mais se encolheu.

Estava agora consolada.
Tinha um destino, afinal.

Ia ser ponto final.

Margarida Ribeiro

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Imagens da arte de Romero Britto

ABRAÇO


ABAPURU DE BRITTO





BORBOLETA 


COMEMORAÇÃO


JUNTOS 


LIÇÕES DE AMOR 


MISTURA DE RAÇAS


PAZ E AMOR


PERTO DE VOCÊ

DILMA


AUTO RETRATO DE ROMERO BRITTO


Genero textual: Entrevista


DOMINGO, 15 DE JANEIRO DE 2012
ENTREVISTA COM ROMERO BRITTO - O ARTISTA QUE SERÁ O ENREDO DA RENASCER NA SAPUCAÍ 2012
Aclamado no mundo todo, o artista pernambucano Romero Britto, 48 anos, vai ganhar também aplausos na Sapucaí. Ele é enredo da escola de samba Renascer de Jacarepaguá, que estreia este ano no Grupo Especial.

Com trabalhos expostos em mais de 100 países e obras encomendadas por empresas como Disney, Audi e até a Fifa, Britto considera ser homenageado no Carnaval o “ponto alto” da sua carreira. Ele vai desfilar em destaque que prefere manter como surpresa. E elogia a criatividade com que o carnavalesco da escola transformou sua história em samba.
Em entrevista ao jornal O DIA, o artista conta como ganhou o mundo e o que significa para ele este momento de integração com seu país de origem.
Romero Britto: ‘Ser enredo no Carnaval é o ponto alto da minha carreira’
O DIA: Qual a emoção de ser homenageado por uma escola de samba do Rio?
BRITTO: É o ponto alto da minha carreira. O Carnaval é a maior celebração da cultura brasileira. Estou muito emocionado, feliz e honrado. Conhecia a escola só de nome, mas nunca tinha ido à quadra. No ano passado, fui várias vezes ao Rio só para encontrar os membros da escola, o que foi para mim uma grande experiência.
O DIA: O samba-enredo e o projeto de desfile estão retratando bem a sua história?
BRITTO: Acho tudo maravilhoso. O carnavalesco (Edson Pereira) se empenhou muito, teve criatividade. Adoro o samba e a música brasileira, o enredo inspirado na minha arte e história ficou lindo. Vou desfilar num destaque, que é surpresa. É pena, mas ficarei só três dias no Brasil para o desfile, porque irei num jato fretado e tenho que voltar com o grupo.
O DIA: O que há em comum entre o Carnaval e a sua arte?
BRITTO: O Carnaval é a maior celebração da alegria do mundo e minha arte é um festival de alegria todo dia. Todo mundo quer amor e coisas boas na vida, o mundo vê isto nas minhas obras. Só se atrai por minha arte quem está de bem com a vida e quer celebrar em casa.
O DIA: Como foi sair de Pernambuco e ganhar o mundo?
BRITTO: Sempre fui autodidata, desde criança comecei a pintar em qualquer material que conseguisse. Em 1983, viajei para Paris, onde conheci a obra do Matisse e do Picasso. Juntei as influências de cubismo com as da arte pop. Em 1988, me mudei para Miami. No ano seguinte, fui selecionado para a campanha ‘Absolut Art’, da vodca Absolut. Depois fiz várias colaborações para marcas como Audi, Disney e até Fifa, para quem criei uma gravura oficial para a Copa de 2010. Foi uma longa trajetória. Tive que me adaptar muito, mas sempre me atraí por desafios. Aqui estou, me sinto abençoado.
O DIA: Quais suas principais conquistas?
BRITTO: Hoje minhas obras estão em galerias de arte e museus em mais de 100 países pelo mundo, incluindo o Louvre, em Paris. Minhas instalações de arte pública incluem esculturas monumentais na frente do O2 Dome, em Berlim, Alemanha; no Hyde Park em Londres, e no aeroporto John F. Kennedy em Nova York (EUA), e uma tela viva em que acrobatas do Cirque du Soleil usaram no espetáculo. Ano passado, a presidenta Dilma Rousseff me convidou para criar logomarca de programa do Ministério da Saúde.
O DIA: O que fazer para alcançar o sucesso artístico?
BRITTO: O que é muito importante a arte da inclusão. A minha arte está nas mãos de grandes colecionadores do mundo, como o Carlos Slim e toda a família, que ao mesmo tempo têm Leonardo da Vinci, El Greco, Crana, Rubens entre outros. Eu sempre quis democratizar a minha arte. Não acho legal a palavra exclusividade, mas sim inclusão. Agora estou fazendo projetos no Brasil, Rússia, Índia, China, Inglaterra e Estados Unidos (na Califórnia), mas tenho que reduzir minhas viagens.

O DIA: Qual o papel do artista?
BRITTO: Um agente de troca positivo. Ofereço tempo, arte e recursos para mais de 250 organizações de caridade. Já fui convidado como palestrante no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, e muitas escolas e instituições.


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Poemas de Maria Mazzetti


O que eu descubro

~~~~~~~~~~~~~~~~~
Pelo quintal, no jardim,
parece tudo quietinho...
não se ouve um barulhinho...

Mas embaixo das plantinhas
Um milhão de formiguinhas...

Entre as flores e entre as telhas,
passeiam muitas abelhas.

De um buraquinho redondo
vem saindo um marimbondo.

No tronco igual a uma lixa,
escorrega a lagartixa.

E debaixo de uma pedra,
bem debaixo escondidinha
Eu descubro a joaninha!
Maria Mazzetti






Esconde-esconde
~~~~~~~~~~~~~~
Brincando de esconde-esconde,
todo mundo se escondeu.
O pato correu, correu.
Num buraco se meteu.

O tatu foi lá pra árvore.
Se escondeu bem na raiz.
Tamanduá se escondeu,
mas esqueceu do nariz...

O rato foi bem depressa
pra debaixo do tapete.
Ninguém vai achar a pulga
que é menor do que alfinete.

Tem um bicho escondidinho...
Quero ver se tu descobres
de quem é este rabinho...
Maria Mazzetti


Quem mora? 



Quem mora na casa torta?
 
Sem janelinha e sem porta?


Um gato
que usa sapato
 
E tem retrato
       
no quarto?
 

Uma florzinha 
pequenininha
de sainha
curtinha?
 
m elefante com rabinho de barbante? 
Um papel de óculos e chapéu?
Um botão que toca violão?
 
Um pente com dor de dente?
 

Quem mora na casa? Quem?
Invente depressa alguém.


Maria Mazzeti


Biografia de Maria Mazzetti


                   Maria Mazzetti                            
Maria Mazzetti é um dos nomes mais importantes da literatura para crianças no Brasil. Suas narrativas contam, verdadeiramente, histórias, com muitos acontecimentos, fantasia e grande dose de humor. Por isso mesmo, suas obras foram inspiradoras de grandes autores nossos para a infância, como Sylvia Orthof, e continuam encantando as crianças. Além das nar­ra­ti­vas, escre­veu ­várias peças de tea­tro, como Chapeuzinho Amarelo Prima de Chapeuzinho Vermelho. Nasceu em 1926 e mor­reu em 1974, no Rio de Janeiro. A publi­cação de suas obras homenageia a auto­ra, mas tam­bém as crian­ças, que mere­cem reencon­trar as his­tó­rias envol­ven­tes de uma nar­ra­do­ra especial.

Poemas de José Paulo Paes

Muito bom para trabalhar intertexto, esse poema Paraíso!




Paraíso
Se esta rua fosse minha,
eu mandava ladrilhar,
não para automóveis matar gente,
mas para criança brincar.

Se esta mata fosse minha,
eu não deixava derrubar.
Se cortarem todas as árvores,
onde é que os pássaros vão morar?

Se este rio fosse meu,
eu não deixava poluir.
Joguem esgotos noutra parte,
que os peixes moram aqui.

Se este mundo fosse meu,
Eu fazia tantas mudanças
Que ele seria um paraíso
De bichos, plantas e crianças.
José Paulo Paes


Convite

Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.
Só que
bola, papagaio, pião
de tanto brincar
se gastam.
As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.
como a água do rio
que é água sempre nova.
como cada dia
que é sempre um novo dia.
Vamos brincar de poesia?
José Paulo Paes


Letra Mágica

Que pode fazer você
para o elefante
tão deselegante
ficar elegante?
Ora, troque o f por g!

Mas se trocar, no rato,
o r por g,
transforma-o você
(veja que perigo!)
no seu pior inimigo:
o gato.
José Paulo Paes




Dicionário

A
Aulas: período de interrupção das férias.

B
Berro: o som produzido pelo martelo quando bate no dedo da gente.

C
Caveira: a cara da gente quando a gente não for mais gente.

D
Dedo: parte do corpo que não deve ter muita intimidade com o nariz.

E
Excelente: lente muito boa.

F
Forro: o lado de fora do lado de dentro.

G
Girafa: bicho que, quando tem dor de garganta,
é um deus-nos-acuda.

H
Hoje: o ontem de amanhã ou o amanhã de ontem.

I
Isca: cavalo de Tróia para peixe.

J
Janela: porta de ladrão.

L
Luz: coisa que se apaga, mas não com borracha.

M
Minhoca: cobra no jardim-de-infância.

N
Nuvem: algodão que chove.

O
Ovo: filho da galinha que foi mãe dela.

P
Pulo: esporte inventado pelos buracos.

Q
Queixo: parte do corpo que depois de um soco vira queixa.

R
Rei: cara que ganhou coroa.

S
Sopapo: o que acontece quando só papo não adianta.

T
Tombo: o que acontece entre o escorregão e o palavrão.

U
Urgente: gente com pressa

V
Vagalume: besouro guarda-noturno.

X
Xará: um outro que sou eu.

Z
Zebra: bicho que toma sol atrás das grades.

José Paulo Paes






Biografia de José Paulo Paes


Biografia de José Paulo Paes

          Poeta, ensaísta, jornalista e tradutor, José Paulo Paes nasceu em 22 de julho de 1926 em Taquaritinga, SP. Transferiu-se para Curitiba em 1944, onde conviveu com vários intelectuais da época, dentre eles o poeta Glauco Flores de Brito e Dalton Trevisan. Iniciou sua carreira literária com o livro O aluno.
          Retornou a São Paulo em 1949, e após trabalhar em uma indústria farmacêutica, iniciou sua carreira como editor na Editora Cultrix, onde permaneceu por mais de vinte anos. Autodidata no aprendizado das línguas inglesa, francesa, italiana, alemã, espanhola, dinamarquesa e grega, dedicou-se à tradução de vários autores de literatura fantástica, poesia erótica e poetas gregos modernos.
          No início de sua carreira como editor, aproximou-se de Cassiano Ricardo e do grupo da poesia concreta, chegando a colaborar na Revista Invenção e partilhar de algumas idéias sob a óptica do humor e do laconismo da economia verbal, recursos que usou para tornar mais acurada a ponta satírica de sua poesia.
          A partir de 1984, José Paulo Paes passa a escrever também poemas lúdicos para o público infanto-juvenil, trabalhando com conceitos em dicionários. Para ele "a palavra é o brinquedo que não gasta, pois quanto mais se brinca com elas mais nova ficam".
          José Paulo Paes faleceu em 9 de outubro de 1998 aos 72 anos.